Demócrito e o atomismo da mente

Para Demócrito, filósofo grego do sec V a.C, toda a matéria do universo era formada apenas de átomos e espaço. Demócrito foi o pai fundador do materialismo na filosofia, abandonando assim qualquer vinculo com idealismos e dualismos entre matéria e espírito. Apesar da tradição filosófica tratar dos estudos sobre Demócrito na ala dos pré-socráticos, isso é um erro. Proposital, já que mistura o filósofo com outros com os quais nada tem a ver e o diminui frente a Sócrates.

Demócrito foi contemporâneo de Sócrates e inclusive sobreviveu décadas após a morte deste. Enquanto Sócrates era um dualista que acreditava no binômio corpo/alma ou matéria/espírito, Demócrito era um monista; ou seja, um materialista que defendia que só existia a matéria. Nada de espírito.

Sem alma, sem transcendências espirituais de qualquer espécie.  No caso da origem do pensamento, que os dualistas colocavam na alma, Demócrito defendia que a mente também era produto dos átomos. Apenas eram átomos diferentes: átomos especiais, que ele chamava de átomos quentes e que ao funcionar geravam um processo diferente: o pensamento. Sem alma. Apenas átomos e espaço.

Parece engraçado até você substituir átomo quente por neurônios e o processo especial de funcionamento por sinapses e levar em consideração que a neurobiologia atualmente defende que a mente e a razão parecem ser o resultado de um processo evolutivo imanente na complexidade do cérebro iniciada em seres de outras espécies até chegar nos mamíferos e em especial nos primatas e dentro deles no gênero homo.

Demócrito. 2500 anos atrás. Palavras arcaicas e antigas para uma idéia científica bem atual.

As linhas gerais do pensamento atomista de Demócrito eram conhecidas na Antiguidade, sendo um rival do pensamento socrático e do idealismo dualista, com o qual foi contemporâneo. Apesar disso, não existe um único diálogo platônico que mencione Demócrito. Nem mesmo para criticá-lo. E Platão era bom em criticar todos os filósofos com os quais não concordava.

Se acreditarmos nas palavras da clássica obra de Diógenes Laércio (“Vida e Doutrina dos Filósofos ilustres, sec. III d.C), Platão chegou a defender que as obras de Demócrito fossem todas queimadas. Sabemos que na genialidade de Platão,  ele era bem pouco afeito à convivência com o pensamento contrário,

Fato é que o desejo de Platão se confirmou ao longo dos séculos: queimaram todos os livros de Demócrito. O que chegou até nós foram apenas fragmentos ou trechos em críticas feitas em textos de seus opositores.

A tradição filosófica nunca gostou muito dos subversivos.

– Manuel Sanchez