Titãs em Conflito: A Rixa entre Da Vinci e Michelangelo


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Leonardo da Vinci e Michelangelo são dois gigantes do Renascimento. Autores de trabalhos que ficaram para a eternidade e surpreendentemente  se detestavam na vida pessoal a ponto de chegarem às vias de fato.

E em um determinado momento no tempo, eles tiveram a chance de medir forças.

Em 1504, da Vinci era um senhor de 51 anos, completamente estabelecido em seu trabalho como um dos principais artistas da Italia. Recebia inúmeras encomendas dos homens mais ricos do continente. Seu ateliê era um ponto de encontro entre artistas, políticos , mecenas e os garotos que ele tanto apreciava.

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Às vezes, Leonardo abria seu ateliê para se exibir durante o ato de pintura. Além de artista que inovou em novas e revolucionárias técnicas de pintura e mistura de tintas, Leonardo da Vinci era um cientista, engenheiro e inventor. Desenhou esboços para criação do paraquedas, do planador e de um tanque de guerra com propulsão por alavancas. Estudou profundamente anatomia, dissecava cadáveres e deixou milhares de páginas com desenhos e descrições minuciosas dos corpos de animais e seres humanos. Definitivamente, um dos maiores nomes do Renascimento.

Michelangelo atingia 29 anos de idade. Já era considerado o principal escultor da Itália e sua fama como pintor também aumentava. Michelangelo considerava-se escultor. Essa era sua paixão. A pintura era uma atividade secundária. Nesta época, o escultor ainda não era o artista mais rico e bem pago do século XVI, mas já trilhava esse caminho.

Obstinado, dado a divagações religiosas, inábil socialmente, feio, tinha um nariz quebrado na juventude que calcificou mal e sofria por um amor homossexual idealizado e – provavelmente – não realizado. Quando não reconheceram que a obra “Pietá” era de sua autoria, voltou ao lugar onde estava depositada e marcou no mármore – no peito de Nossa Senhora – seu nome de forma indelével.

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Da Vinci considerava a escultura uma arte menor. Em cartas, existem anotações de Leonardo criticando obras de Michelangelo e – sem dar nomes – afirmando que a escultura era uma forma de arte de operário, que suava para criar arte, vivia sujo do pó do mármore e que cujo ateliê era sempre um local sujo devido à atividade da escultura. Mirava em Michelangelo.

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Michelangelo detestava a personalidade de Leonardo e afirmava que as (poucas) esculturas de Da Vinci eram obras sem vigor.

Segundo biógrafos, Leonardo – que foi genial em tudo que tentou – para os mais próximos confessava ficar espantado com a vivacidade das esculturas de Michelangelo. O jovem escultor, no silêncio de seu ateliê, também estudava as técnicas de pintura desenvolvidas por Leonardo.

De acordo com os biógrafos, nas vezes em que os gigantes se encontraram nas ruas de Florença, os amigos tiveram que impedir que os dois se estapeassem.

Desta forma, quando em 1504, a cidade de Florença comissionou os dois artistas para – ao mesmo tempo e trabalhando lado do outro – criarem seus painéis para embelezamento do Palazzo della Signoria este foi considerado o maior concurso de pintura das terras italianas.

Entre 1505 e 1506 , os dois iniciaram e recomeçaram o trabalho entre a comissão de Florença e obras contratadas por outros mecenas em outras cidades. Quando se encontraram, aparentemente fizeram questão de ignorarem-se.

Leonardo em especial era famoso por enraivecer seus contratantes pela demora de seu trabalho e por assumir diversos contratos ao mesmo tempo. Para piorar a situação, uma mistura desastrada de tintas estragou boa parte do trabalho que já estava pronto. Em 1506, abandonou o trabalho em Florença para atender demandas anteriores de Milão que já estavam levando as cidades a uma desavença política pelo artista.

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Michelangelo queria trabalhar em seu painel, mas uma requisição do Papa Júlio II o obrigou a se mudar para Roma. Michelangelo havia sido intimado a pintar o teto da Capela Sistina. Não quis. Apontou que o pintor Rafael seria a pessoa mais indicada, mas o obstinado Papa não aceitou o não como resposta e ofereceu um caminhão de dinheiro para ter o artista.

Michelangelo também abandonou a obra florentina no Palazzo della Signoria.

Com os dois artistas abandonando a obra, o espaço foi utilizado por outros escolhidos por Florença. Os desenhos existentes foram sobrepostos. O que temos dessa competição são esboços e algumas cópias de alunos.

Michelangelo foi para Roma. Neste mesmo período, mas trabalhando em outra ala do Vaticano, estava Rafael. Entre 1508 e 1512, Michelangelo pintou o teto da Capela Sistina, às turras com o Papa Júlio II que exigia mais pressa e mais pressa.

Abandonou o trabalho.

O Papa ofereceu mais dinheiro e o trouxe novamente. Junto com as esculturas de Davi, Moisés e a Pietá, a pintura da Capela Sistina está entre as obras mais exaltadas de Michelangelo e do mundo.

O teto da Capela Sistina é considerado um dos afrescos mais perfeitos da história da pintura. Até hoje, centenas de milhares de pessoas, todos os anos, viajam ao Vaticano para admirá-lo. Anos depois de concluído o teto da Capela, Michelangelo recebeu nova comissão para pintar a parede do altar. O resultado foi o Juizo Final.

Leonardo da Vinci era um homem mais completo – artista, engenheiro, escritor, cientista, botânico, músico e desenvolvedor de novas técnicas de pintura – sendo  o grande nome do Renascimento.

Mas a pintura de Michelangelo é mais impactante: seja pela extensão, seja pelo apuro.

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Leonardo viajou a Roma e viu o trabalho de Michelangelo no teto da Capela Sistina.

Diante da obra concluída, seu comentário foi de crítica. Da Vinci achou que todos os corpos eram muito viris, faltava naturalidade.

Michelangelo soube da crítica e até a morte de Leonardo da Vinci – em 1519 – não se falaram mais.

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Autor: Manuel Sanchez

Leitor compulsivo, amante das viagens e da boa mesa. Sou um sujeito que acredita no charme da simplicidade, que riqueza é ter tempo e que se esforça para passar longe da vulgaridade.

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