Destaque

Minha “Página do Autor” na Amazon

Todos os livros podem ser encontrados na minha “Página do Autor” nos sites da Amazon Americana e Brasileira.

Os ebooks ganharam novo trabalho gráfico para suas capas e no site americano também é possível adquirir a versão física (paperback) das obras.

Página de Autor – Amazon BR: amzn.to/37Pwnuq

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– Manuel Sanchez

Um pouco da minha vida no Instagram: @manuelsanchez.rj

Posts Diários e Divagações no Twitter: @m1977sanchez

Crônicas e Afins: Coda

Trilhando novas searas

Deixando o coração respirar 

passagens definitivamente

obstruídas. Mudança de rumo.  

o ciclo até o seu fim

e consigo finalmente ficar agradecido.

cada um de nós só consegue dar aquilo que tem.

E trocamos entre nós tudo o que foi possível. 

Amores desfeitos talvez sejam apenas um sussurro. 

um sopro que apaga a vela. Uma pessoa que vai se deitar

e não acorda. serena

Um copo de bebida que acaba. deixado no balcão

A agulha percorre todo o vinil

o livro é deixado na prateleira

Um filme bom onde os créditos sobem

Trocamos entre nós tudo o que foi possível.

O ciclo até o seu fim 

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Crônica e Afins: Coda, de Manuel Sanchez

 

Crônicas e Afins: o que existe em um nome?

O que existe em um nome?

(Manuel Sanchez)


Antes do palácio havia uma Alameda com grama no local. Um dia construíram um prédio alto na avenida. Muitos andares, muitas lâminas. O prédio era uma fortaleza com muros impenetráveis, patrulha militar, requintes de luxo e mármore, servos, aristocracia com salas especiais e tinha até seu próprio calabouço, como convém a todos os palácios.

Colocaram um nome bonito no portão de entrada. Portão com um fosso e vistoria, como convém a todos os palácios.

Colocaram um nome bonito no portão de entrada. Um nome. Um nome pode ser a antinomia do que você faz. Muitos tolos lêem a mensagem no portão e entram acreditando nas suas próprias esperanças. É uma forma de impedir que a realidade exploda. Também é uma ironia e uma maldade.

Existem algumas frestas e rachaduras no palácio de mármore. E enquanto não fecham as rachaduras vou passando pelo portão, pela vistoria do fosso e pelas salas especiais da aristocracia. E já que o nome bonito está estampado no portão eu o uso para tentar alargar as frestas. Às vezes, os donos do palácio se espantam. O que é isso? É um nome, eu respondo. O uso do nome. A aplicação do nome. A materialidade do nome. A encarnação do nome. Existem momentos em que eles riem. Outros em que constrangidos acenam para a imanência de um conceito. E como um feiticeiro conseguimos conjurar o nome.

Mas eu não sou tolo. Eu ando dentro de um Palácio. Seus donos fazem concessões para que a realidade da qual usufruem  não exploda. Seus donos acham que um nome é apenas um nome.

Ou talvez eu seja de fato um tolo. Tentando todo dia conjurar magias. Alargando rachaduras. Na esperança de materializar um nome: Justiça.

Crônicas e Afins: No Hálito da Vida, Sob os Olhos da Morte

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No Hálito da Vida, Sob os Olhos da Morte.

(por Manuel Sanchez  @m1977sanchez)

Então estamos aqui, juntos.

Cada qual em sua jornada, sozinhos em suas apreensões; mas solidários em nossos abraços. Vivemos a alegria de cada momento, extasiados pelo brilho de tanto gozo; inseguros pelo medo da morte. Saudosos pelos momentos que deixamos para trás. Calando o temor de não termos tempo suficiente. Criando algo que nos projete quando nos formos. Buscando uma voz.

Nessa dança que nos contagia, verteremos todos os cálices. Nessa oração pelos nossos corpos, mergulharemos nesse mar de prazeres. Aconchegue-se em meu templo. Sinta minha benção nos meus beijos. Deixe que eu inunde o seu corpo com o meu e juntos procuremos um sentido. Criaremos o nosso.     

Antes, eu olhava o futuro e ele parecia tão distante. Hoje, eu me vejo no meio do caminho. O horizonte se aproxima. Existirão nuvens de tempestade, chuva fina, brisa, raios ou trovões? Se bebo para amenizar o medo, também é certo que ele faz companhia. Mas que venha. Que venham todos. A alma é larga. O ombro é forte.  

Existem sinos que nos avisam. Placas que doutrinam. Púlpitos que castram. Algemas que nos prendem. Chicotes de preconceito. Eles tentam nos tirar a espontaneidade. São os arautos da morte que nos querem em decomposição ainda em vida. Sabotadores. Os piores habitam dentro de nós. E conversamos todos os dias.

Estamos sempre sob os olhos opacos da morte. Nas garras do tempo que se afiam desgastando nossos corpos. Mas não tema, diz a garrafa que se esvazia. Lembre-se que também somos bafejados pelo hálito da vida. E os orgasmos da vida são os melhores de todas as amantes.  

Crônica “No hálito da vida, sob os olhos da morte” , de Manuel Sanchez

Crônicas e Afins: Flertes De Falsidade

Você tem todo o direito de deixar o seu relacionamento privado. Mas tem a obrigação de deixar claro que está em um.

Principalmente se espaços são abertos para terceiros. Responsabilidade afetiva cabe em todos os vértices de um triângulo.

É deslealdade criar expectativas deixando os envolvidos cegos. É imaturidade não conversar a respeito e falsidade calar quando confrontada.

O narcisismo tem limites até mesmo em sua promiscuidade.

Manuel Sanchez

Ático: sobre a morte

” Quando a morte visitar, eu gostaria que ela me encontrasse tarde, apaixonado e um pouco bêbado” .
– Ático

Ático (140 — 185 DC) foi um filósofo e líder do platonismo em Atenas durante o final do segundo século e pode ter sido o primeiro a ocupar a cadeira da filosofia platônica criada em 176 por Marco Aurélio.

Seus escritos originais se perderam. O que apontam-se como suas idéias foram transcritas por Eusébio, havendo uma tendência para disputar e negar argumentos aristotélicos.

Depois dos manuais: Filosofia, Psicologia e Sociologia para curiosos – parte III

 

 

Sem maiores delongas, continuamos em nossa viagem pelos textos dos autores que fizeram minha cabeça e que indico para os amigos leitores (e leigos) que tenham a curiosidade que eu tive após a leitura dos manuais básicos sobre filosofia.

As partes anteriores da lista podem ser acessadas a seguir: parte I (Nietzsche, Freud e Maquiavel) e parte II (Marco Aurélio, Sêneca e Platão). 

 

 

 

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Zygmunt Bauman:

obras: Modernidade Liquida, Vida para Consumo, Identidade, O mal estar da pós-modernidade

Bauman é sinônimo da sociologia do fim do sec XX e inicio do sec XXI, com uma imensa quantidade de livros publicados que abordam quase todos os matizes das ansiedades e esperanças da vida moderna em sociedade.

Ele possui dezenas de livros publicados e os indicados acima são um recorte pessoal.  Seus livros tratam desde a busca por identidade em meio a conflitos étnicos até o consumismo desenfreado, a sociedade de espetáculo que se estupidifica cada vez mais aceleradamente e o individualismo crônico que nos domina.

O autor também foi abordado em outras postagens do blog com entrevistas e resumo de suas obras.  

 

JungCarl Jung

obra: O Homem e seus Símbolos

Discípulo de Freud, Jung rompeu com o mestre e criou a primeira escola independente dos pensamentos freudianos.

Tornando-se o maior crítico da linha de análise freudiana, Jung  possuía um entendimento completamente distinto de Freud em relação ao inconsciente e sua força sobre a psiquê, o papel dos sonhos, dos traumas e dos desejos.

O livro indicado é um verdadeiro resumo escrito por Jung e seus discípulos sobre sua linha de interpretação.

A originalidade do pensamento Junguiano e sua oposição à linha Freudiana já foram tratados em passagens anteriores do Blog aos quais remetemos o leitor. 

 

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obras: Pensamentos, Carta sobre a felicidade

Epicuro de Samos foi um filósofo do período helenístico que defendia os prazeres da vida.

Ao contrário do hedonismo irrefletido que hoje associamos ao vocábulo “prazer”, para Epicuro os prazeres a serem perseguidos eram os valores da amizade verdadeira, da vida simples e sem excessos de consumo, aversão à ostentação, necessidade de possuir uma vida consciente e refletida, realizando uma análise pessoal dos nossos atos e defeitos, visando sempre  o comedimento e o controle das paixões.  

Prazer, portanto, era a ausência de dor e a impertubabilidade da alma. Dessa forma, foram bastante injustos os ataques de hedonismo que a escola estóica fazia ao pensamento epicurista. 

Epicuro escreveu muito, mas poucos textos sobreviveram ao tempo existindo algumas coleções com seus adágios e trechos de cartas. São normas de conduta para a vida prática e para a paz de espírito.

Um documentário sobre seus pensamentos pode ser visto aqui.

 

Segue para a parte IV com dicas de Kant, Marx e Sartre

Divagações Estóicas: Marco Aurélio, “Meditações”

Meditações“ é um conjunto de 12 livros que trazem máximas a respeito do auto-conhecimento e desenvolvimento pessoal do imperador romano Marco Aurélio (121-180 dC), líder do Império em seu momento de maior expansão e força, em um caderno de escritos pessoais que ele havia intitulado apenas como “Para Eu Mesmo” ; elaborado ao longo de sua vida com suas divagações sobre responsabilidade, desenvolvimento de resiliência, ordenação do caráter honrado e a manutenção da calma e serenidade ao lidar com as situações difíceis e doloridas da existência.

Tal obra seriam reunida postumamente, tornando-se um dos grandes livros com os ensinamentos e estilo de vida estóicos, a par com as cartas de Sêneca e os adágios de Epicteto.

Previne a ti mesmo ao amanhecer: “Vou encontrar um intrometido, um mal-agradecido, um insolente, um astucioso, um invejoso, um avaro”. (Livro II, 1)

“Não sejam tuas opiniões aquelas que o insolente adota ou quer que tu adotes, mas verifica se, em si mesmas, se conformam com a verdade”. (Livro IV, 11)

“És dotado de razão? – Sou. – Então, por que dela não usas? Se ela desempenha o seu papel, que mais queres?” (Livro IV, 13)

“Não procedas com se houvesses de durar dez milênios; o fim inevitável pende sobre ti; enquanto vives, enquanto podes, torna-te um bom”. (Livro II, 17)

Vê o fundo; não te passe despercebida, em coisa alguma, sua qualidade própria, nem seu valor. (livro VI, 3)

“A melhor maneira de arredá-los é não parecer com eles”. (Livro VI, 6)

“Se achas demasiado árdua para ti uma empresa, nem por isso a suponhas impossível ao homem; ao contrário, se algo é possível e próprio de homem, considera-o acessível também a ti”. (Livro VI, 19)

Eu cumpro o meu dever. Os outros seres não me inquietam; ou são inanimados, ou irracionais, ou vagantes que desconhecem o caminho”. (Livro VI, 22)

“Todos colaboramos numa única realização, uns consciente e inteligentemente, outros sem o perceberem. Isso, penso, significava Heráclito ao dizer que até os que dormem são obreiros e colaboradores dos acontecimentos do mundo.” (Livro VI, 42)

“O que não convém ao enxame não convém tampouco à abelha”. (VI, 54)

“Perto estás de esquecer tudo e de ser esquecido de todos”. (Livro VII, 21)

A arte de viver é mais semelhante à luta que à dança em nos mantermos eretos e preparados para os acontecimentos imprevistos. (Livro VII, 61)

“É cômico não fugir à própria maldade – o que é possível; e querer fugir à dos outros – o que é impossível”. (Livro VII, 71)

“Lembra-te de que mudar de opinião e seguir a quem te corrige são igualmente atos livres, pois é atividade tua, desenvolvida de acordo com um impulso ou julgamento teu e naturalmente também de acordo com a tua inteligência”. (Livro VIII, 16)

“… vendo tudo como é, trato cada coisa segundo o seu valor”. (Livro VIII, 29)

[Livro IV, 27 ] Ou um universo que é todo ele ordem, ou então uma balbúrdia atirada ao acaso, mas formando um universo. Mas, poderá subsistir alguma ordem em ti próprio e ao mesmo tempo a desordem no Todo mais amplo? E isso quando existe unidade de sentimentos entre todas as partes da natureza, apesar das suas divergências e dispersão?

[ Livro IV, 36 ] Vê como todas as coisas estão sempre a nascer da mudança; ensina-te a ti próprio a ver que a mais elevada felicidade da Natureza reside em mudar as coisas que existem e formar novas coisas da mesma espécie. Tudo aquilo que existe é, em certo sentido, a semente do que irá nascer de si. Não há nada menos próprio de um filósofo do que imaginar que a semente só pode ser alguma coisa que se deita à terra ou no útero.

[ Livro IV, 44 ] Tudo o que acontece é tão normal e já esperado como a rosa na primavera ou o fruto no verão; isto é verdade para a doença, para a morte, para a calúnia, para a intriga e para todas as outras coisas que deliciam ou incomodam os tolos.

[ Livro IV, 45 ] O que acontece a seguir está sempre intimamente relacionado com aquilo que o precedeu; não é um desfile de acontecimentos isolados que obedecem simplesmente às leis da sequência, mas uma continuidade racional. Além disso, tal como as coisas que já existem, estão todos coordenados harmoniosamente, os que se encontram em processo de nascimento exibem a mesma maravilha de concatenação, e não o facto nu e cru da sucessão.

[ 48 ] Lembra-te sempre de todos os médicos, já mortos, que franziam as sobrancelhas perante os males dos seus doentes; de todos os astrólogos que tão solenemente prediziam o fim dos seus clientes; dos filósofos que discorriam incessantemente sobre a morte e a imortalidade; dos grandes chefes que chacinavam aos milhares; dos déspotas que brandiam poderes sobre a vida e a morte com uma terrível arrogância, como se eles próprios fossem deuses que nunca pudessem morrer; de cidades inteiras que morreram completamente, Hélice, Pompeia, Herculano e inúmeras outras. Depois, recorda um a um todos os teus conhecidos; como um enterrou o outro, para depois ser deposto e enterrado por um terceiro, e tudo num tão curto espaço de tempo. Repara, em resumo, como toda a vida mortal é transitória e trivial; ontem, uma gota de sémen, amanhã uma mão cheia de sal e cinzas. Passa, pois, estes momentos fugazes na terra como a Natureza te manda que passes e depois vai descansar de bom grado, como uma azeitona que cai na estação certa, com uma bênção para a terra que a criou e uma ação de graças para a árvore que lhe deu a vida.

Trechos retirados do livro Meditações de
Marco Aurélio , imperador romano e filósofo estóico.

LIVRO GRÁTIS: ESTE É O CAMINHO

Este é o Caminho” foi o meu primeiro livro, originalmente publicado em fevereiro de 2020.

É a minha releitura dos preceitos estóicos, escrito ao estilo de aforismos, tal qual faziam Marco Aurélio e Epicteto. Mas em uma linguagem adequada ao leitor moderno.

Escrevi esse livro como uma terapia para me reestruturar. Foi uma fase difícil, onde precisei relembrar dos conceitos de honra, dignidade, disciplina, não reatividade, dedicação, superação e resiliência.

Foi um exercício para focar a mente e voltar a ser eu mesmo.

O livro digital para Kindle e a versão em papel estão disponíveis na Amazon. Este livro depois foi traduzido para uma versão em inglês no final de 2020.

As versões em PDF seguem abaixo para download gratuito. É o meu presente para aqueles que também possam estar precisando focar a mente em uma leitura sobre determinação e resiliência.

Forte Abraço.

Manuel Sanchez

Twitter: @m1977sanchez & Instagram: @manuelsanchez.rj

¨O Nome da Rosa” e os poderes do Livro

“[…] pensara que todo livro falasse das coisas, humanas ou divinas, que estão fora dos livros. Percebia agora que não raro os livros falam de livros, ou seja, é como se falassem entre si. À luz dessa reflexão, a biblioteca pareceu-me ainda mais inquietante. Era então o lugar de um longo e secular sussurro, de um diálogo imperceptível entre pergaminho e pergaminho, uma coisa viva, um receptáculo de forças não domáveis por uma mente humana, tesouro de segredos emanados de muitas mentes, e sobrevividos à morte daqueles que os produziram, ou os tinham utilizado.”

“Labirinto espiritual, é também labirinto terreno. Poderíeis entrar e poderíeis não sair.”

“A biblioteca defende-se por si, insondável como a verdade que abriga, enganadora como a mentira que guarda”

“O bem de um livro está em ser lido. Um livro é feito de signos que falam de outros signos, os quais por sua vez falam das coisas. Sem um olho que o leia, um livro traz signos que não produzem conceitos, e portanto é mudo. Esta biblioteca talvez tenha nascido para salvar os livros que contém, mas agora vive para sepultá-los. Por isso tornou-se fonte de impiedade.”

“O livro é criatura frágil, sofre a usura do tempo, teme os roedores, as intempéries, as mãos inábeis. Se por séculos e séculos cada um tivesse podido tocar livremente os nossos códices, a maior parte deles não existiria mais. O bibliotecário portanto defende-os não só dos homens, mas também da natureza, e dedica sua vida a esta guerra contra as forças do olvido, inimigo da verdade.”

“Nós vivemos para os livros. Doce missão neste mundo dominado pela desordem e pela decadência. […].”

– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”.

Cartas de Sêneca: Um roteiro para os Estóicos.

“Alguns homens vivem em atos tão escuros, que só enxergam o breu mesmo durante o dia.”
– Sêneca

Projeto: ler todas as cartas de Sêneca. 

Esta série específica é dividida em 3 volumes, nos quais o filósofo estóico discorre sobre temas práticos da vida como o dinheiro, infortúnios, dores, amizades, família, morte, doença etc sempre defendendo a postura de autocontrole, rigor e serenidade face ao destino.

A filosofia estóica nos deu obras maestras nas mãos de Marco Aurélio, Sêneca e Epicteto. A variedade social da penetração de tal pensamento mostra-se na condição de cada um dos autores mencionados: o primeiro um imperador romano; o segundo um senador e diplomata e o terceiro um escravo.

O estoicismo não era uma filosofia preocupada com grandes temas sociais ou a descrição de grandes sistemas para o mundo ou o Estado. Focava no indivíduo e em seu caráter, em como agir perante os fatos do dia a dia e em como organizar a própria razão e os sentimentos.

Usando de termos contemporâneos – e por isso totalmente anacrônicos – podemos dizer que o estoicismo é um estudo de inteligência emocional e de controle das pulsões mais violentas e animalescas de nossa psique.

Não escapou às observações de Sêneca o trato sereno com as dificuldades da vida, a defesa da honestidade, distanciamento das multidões e dos ruídos do mundo, focando-se no desenvolvimento da fortitude de caráter sob qualquer pressão ou circunstância.

Boas recomendações e muito material para desenvolvimento. 

Mantenha-se forte.

Mantenha-se bem.

Titãs em Conflito: A Rixa entre Da Vinci e Michelangelo

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Leonardo da Vinci e Michelangelo são dois gigantes do Renascimento. Autores de trabalhos que ficaram para a eternidade e surpreendentemente  se detestavam na vida pessoal a ponto de chegarem às vias de fato.

E em um determinado momento no tempo, eles tiveram a chance de medir forças.

Em 1504, da Vinci era um senhor de 51 anos, completamente estabelecido em seu trabalho como um dos principais artistas da Italia. Recebia inúmeras encomendas dos homens mais ricos do continente. Seu ateliê era um ponto de encontro entre artistas, políticos , mecenas e os garotos que ele tanto apreciava.

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Às vezes, Leonardo abria seu ateliê para se exibir durante o ato de pintura. Além de artista que inovou em novas e revolucionárias técnicas de pintura e mistura de tintas, Leonardo da Vinci era um cientista, engenheiro e inventor. Desenhou esboços para criação do paraquedas, do planador e de um tanque de guerra com propulsão por alavancas. Estudou profundamente anatomia, dissecava cadáveres e deixou milhares de páginas com desenhos e descrições minuciosas dos corpos de animais e seres humanos. Definitivamente, um dos maiores nomes do Renascimento.

Michelangelo atingia 29 anos de idade. Já era considerado o principal escultor da Itália e sua fama como pintor também aumentava. Michelangelo considerava-se escultor. Essa era sua paixão. A pintura era uma atividade secundária. Nesta época, o escultor ainda não era o artista mais rico e bem pago do século XVI, mas já trilhava esse caminho.

Obstinado, dado a divagações religiosas, inábil socialmente, feio, tinha um nariz quebrado na juventude que calcificou mal e sofria por um amor homossexual idealizado e – provavelmente – não realizado. Quando não reconheceram que a obra “Pietá” era de sua autoria, voltou ao lugar onde estava depositada e marcou no mármore – no peito de Nossa Senhora – seu nome de forma indelével.

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Da Vinci considerava a escultura uma arte menor. Em cartas, existem anotações de Leonardo criticando obras de Michelangelo e – sem dar nomes – afirmando que a escultura era uma forma de arte de operário, que suava para criar arte, vivia sujo do pó do mármore e que cujo ateliê era sempre um local sujo devido à atividade da escultura. Mirava em Michelangelo.

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Michelangelo detestava a personalidade de Leonardo e afirmava que as (poucas) esculturas de Da Vinci eram obras sem vigor.

Segundo biógrafos, Leonardo – que foi genial em tudo que tentou – para os mais próximos confessava ficar espantado com a vivacidade das esculturas de Michelangelo. O jovem escultor, no silêncio de seu ateliê, também estudava as técnicas de pintura desenvolvidas por Leonardo.

De acordo com os biógrafos, nas vezes em que os gigantes se encontraram nas ruas de Florença, os amigos tiveram que impedir que os dois se estapeassem.

Desta forma, quando em 1504, a cidade de Florença comissionou os dois artistas para – ao mesmo tempo e trabalhando lado do outro – criarem seus painéis para embelezamento do Palazzo della Signoria este foi considerado o maior concurso de pintura das terras italianas.

Entre 1505 e 1506 , os dois iniciaram e recomeçaram o trabalho entre a comissão de Florença e obras contratadas por outros mecenas em outras cidades. Quando se encontraram, aparentemente fizeram questão de ignorarem-se.

Leonardo em especial era famoso por enraivecer seus contratantes pela demora de seu trabalho e por assumir diversos contratos ao mesmo tempo. Para piorar a situação, uma mistura desastrada de tintas estragou boa parte do trabalho que já estava pronto. Em 1506, abandonou o trabalho em Florença para atender demandas anteriores de Milão que já estavam levando as cidades a uma desavença política pelo artista.

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Michelangelo queria trabalhar em seu painel, mas uma requisição do Papa Júlio II o obrigou a se mudar para Roma. Michelangelo havia sido intimado a pintar o teto da Capela Sistina. Não quis. Apontou que o pintor Rafael seria a pessoa mais indicada, mas o obstinado Papa não aceitou o não como resposta e ofereceu um caminhão de dinheiro para ter o artista.

Michelangelo também abandonou a obra florentina no Palazzo della Signoria.

Com os dois artistas abandonando a obra, o espaço foi utilizado por outros escolhidos por Florença. Os desenhos existentes foram sobrepostos. O que temos dessa competição são esboços e algumas cópias de alunos.

Michelangelo foi para Roma. Neste mesmo período, mas trabalhando em outra ala do Vaticano, estava Rafael. Entre 1508 e 1512, Michelangelo pintou o teto da Capela Sistina, às turras com o Papa Júlio II que exigia mais pressa e mais pressa.

Abandonou o trabalho.

O Papa ofereceu mais dinheiro e o trouxe novamente. Junto com as esculturas de Davi, Moisés e a Pietá, a pintura da Capela Sistina está entre as obras mais exaltadas de Michelangelo e do mundo.

O teto da Capela Sistina é considerado um dos afrescos mais perfeitos da história da pintura. Até hoje, centenas de milhares de pessoas, todos os anos, viajam ao Vaticano para admirá-lo. Anos depois de concluído o teto da Capela, Michelangelo recebeu nova comissão para pintar a parede do altar. O resultado foi o Juizo Final.

Leonardo da Vinci era um homem mais completo – artista, engenheiro, escritor, cientista, botânico, músico e desenvolvedor de novas técnicas de pintura – sendo  o grande nome do Renascimento.

Mas a pintura de Michelangelo é mais impactante: seja pela extensão, seja pelo apuro.

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Leonardo viajou a Roma e viu o trabalho de Michelangelo no teto da Capela Sistina.

Diante da obra concluída, seu comentário foi de crítica. Da Vinci achou que todos os corpos eram muito viris, faltava naturalidade.

Michelangelo soube da crítica e até a morte de Leonardo da Vinci – em 1519 – não se falaram mais.

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A Beleza de um Casal 

E a Morte, maravilhada pela Vida, disse impulsivamente:

“– Você é tão linda que quero estar sempre contigo!”

Aceite a realidade.

Viva o presente.

Regue a árvore e colha os seus frutos.

As coisas são o que são.

Ame o momento presente e entenda que ele se esvai.

Carpe Diem & Amor Fati

Manuel Sanchez (twitter @M1977sanchez)

Aforismos de Nietzsche, parte 3

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Moro em minha própria casa,
Nunca imitei ninguém
E rio de todos os mestres
Que nunca riram de si.

Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi um filósofo, escritor, poeta e filólogo alemão, um dos mais importantes do século XIX. Escreveu “O Anticristo”, “Assim Falava Zaratustra”, “Gaia CiÊncia”, “Genealogia da Moral” entre outras obras importantes.

De família luterana o seu destino era ser pastor como seu pai e seus avôs, mas perde a fé durante a adolescência. Foi um aluno brilhante, dotado de sólida formação clássica, e aos 25 anos é nomeado professor de Filologia na Universidade de Basileia.

Durante dez anos desenvolveu a sua filosofia em contato com o pensamento grego antigo. Em 1879 seu estado de saúde obriga-o a deixar de ser professor. Sua voz ficou inaudível. Começou uma vida errante pela Itália em busca de um clima favorável tanto para sua saúde como para seu pensamento.

Escreveu em um ritmo crescente, mas sem alcançar repercussão. Em 1889 foi acometido por uma “crise de loucura” que durou até à sua morte. Foi durante esse período em que não possuía mais condições de gerir sua própria vida que as obras de Nietzsche começaram a ganhar repercussão e a serem estudadas. 

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No âmago de suas idéias está o foco na força e no desenvolvimento pessoal, o pensamento de que o homem deve  se fazer  mentalmente superior para superar as agruras do mundo e , sobretudo, que caberia  aos fortes controlar e liderar os fracos. Não se deve pedir desculpas por ser melhor do que a maioria dos seus pares. Aos fortes cabe o domínio. O homens livres seriam verdadeiramente poucos no mundo, seres diferentes e sem nenhum contato com a lógica da humildade.

O pensamento de Nietzsche é antidemocrático, uma vez que nega às massas qualquer valor intrinseco. Sua idéia de Homem é oligárquica, elitista e defende que apenas um pequeno grupo possui as capacidades de liderança e as caracteristicas necessárias para o controle e o domínio. Não por acaso, Nietzsche coloca Platão como o pensador de maior influência em sua vida e na história do Ocidente.  

Inumeros trechos de seus livros são repletos de passagens racistas e misóginas, prudentemente expurgados nos manuais. 

Durante o Nazismo, muitas de suas idéias foram usadas pelos filósofos que apoiavam o pensamento nazifascista para legitimar a superioridade do povo germânico e o seu direito de dominio sobre os demais povos. Estudiosos posteriores apontam que suas idéias e passagens de seus livros foram usadas fora de contexto.  

Muitos estudiosos tentam até hoje localizar os momentos em que Nietzsche escrevia com crises nervosas ou sob efeito de drogas para controlá-las. Os trechos politicamente incorretos são colocados na conta do desenvolvimento de sua doença mental.

Pensamentos:

“Tudo o que se faz por amor, faz-se além do bem e do mal.” 

  “Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.”

“Nada lhe pertence mais que seus sonhos.”

“Eu jamais iria para a fogueira por uma opinião minha, afinal, não tenho certeza alguma. Porém, eu iria pelo direito de ter e mudar de opinião, quantas vezes eu quisesse.”

“Tudo o que não nos destrói, torna-nos mais fortes”

“Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.”

“Nenhum vencedor acredita no acaso.”

Como? É o homem apenas um erro de Deus? Ou é Deus unicamente um erro do homem? Quem “criou” quem? ou seria como se “criou”?                                  

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“Não há fenômenos morais, mas apenas uma interpretação moral de fenômenos.”

“A esperança é o derradeiro mal; é o pior dos males, porquanto prolonga o tormento.”

“Toma cuidado com os que se mostram pequenos. Em tua presença se sentem pequenos e sua baixeza arde e alimenta invisível vingança contra ti.”                                  

“Viver quer dizer ser cruel e implacável contra tudo o que em nós se torna fraco e velho.”

“Na dor há tanta sabedoria como prazer; ambas são as duas grandes forças conservadoras da espécie.”                                  

“Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem.”

“As próprias mulheres, no fundo de toda a sua vaidade pessoal, têm sempre um desprezo impessoal – pela mulher.”

“A mulher aprende a odiar à medida que desaprende a fascinar.”

“A mulher perfeita é um tipo humano superior ao homem perfeito, mas também é um exemplar bem mais raro.”                                  

“Quando tratar com uma mulher não esqueça o chicote.”

“Máscaras. – Há mulheres que, por mais que as pesquisemos, não têm interior, são puras máscaras. É digno de pena o homem que se envolve com estes seres quase espectrais, inevitavelmente insatisfatórios, mas precisamente eles são capazes de despertar da maneira mais intensa o desejo do homem: ele procura a sua alma – e continua procurando para sempre.”                           

nietzsche-caericatura-blog1“Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher ama porque ela não recuará diante de nenhum sacrifício e tudo o mais para ela não tem valor. Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher odeia porque o homem, no fundo de sua alma, é malvado. Mas a mulher, no fundo da sua, é perversa.”

“O homem parece ter mais caráter quando segue seu temperamento do que quando segue seus princípios.”                               

“Ninguém pode construir a ponte sobre a qual tenha de passar o rio da vida; ninguém, a não ser tu.”

“O mais valoroso dentre todos nós raras vezes tem o valor de afirmar tudo o que sabe.”                                  

“Viver quer dizer ser cruel e implacável contra tudo o que em nós se torna fraco e velho.”                                  

“Eu preciso de parceiros, mas colegas vivos; não mortos e cadáveres que tenha que levar com dificuldade por onde eu for.”

“A maneira mais desagradável de replicar numa polêmica é a de enojares e a de calar, pois o agressor interpreta ordinariamente o silêncio como um desprezo.”

A Minha Felicidade – Depois de estar cansado de procurar aprendi a encontrar. Depois de um vento me ter feito frente navego com todos os ventos.”                              

Há homens que já nascem póstumos.

Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos.

nietzsche

Não há nada que deprima mais o ser humano (mais depressa) do que a paixão do ressentimento.

Chamo desgraçados todos aqueles que só podem escolher entre duas coisas: tornarem-se animais ferozes ou ferozes domadores de animais. Eu os denomino pastores, mas eles a si mesmos se consideram os fiéis da verdadeira crença! Vede os bons e os justos! A quem odeiam mais? A quem lhes despedaça as tábuas de valores, ao infrator, ao destruidor. É este, porém, o criador.

“É chamado de espírito livre aquele que pensa de modo diverso do que se esperaria com base em sua procedência, seu meio, sua posição e função, ou com base nas opiniões que predominam em seu tempo. Ele é exceção, os espíritos cativos, a regra; […] De resto, não é próprio da essência do espírito livre ter opiniões mais corretas, mas sim ter se libertado da tradição, com felicidade ou com um fracasso. Normalmente, porém, ele terá ao seu lado a verdade, ou pelo menos o espírito da busca da verdade: ele exige razões; os outros, fé.”

Amamos o desejo, não o ser desejado

A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade.

É pelas próprias virtudes que se é mais bem castigado.

No convívio com sábios e artistas facilmente nos enganamos no sentido oposto: não é raro encontrarmos por detrás dum sábio notável um homem medíocre, e muitas vezes por detrás de um artista medíocre – um homem muito notável.

Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.

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O homem procura um princípio em nome do qual possa desprezar o homem. Inventa outro mundo para poder caluniar e sujar este; de fato só capta o nada e faz desse nada um Deus, uma verdade, chamados a julgar e condenar esta existência.

O castigo foi feito para melhorar aquele que o aplica

Com os princípios quer-se tiranizar os hábitos, ou justificá-los ou honrá-los ou injuriá-los ou escondê-los: – dois homens com princípios iguais querem, verosimilmente, atingir com eles algo de fundamentalmente diferente.

Deus está morto: mas, considerando o estado em que se encontra a espécie humana, talvez ainda por um milénio existirão grutas em que se mostrará a sua sombra.

Para a mulher, o homem é um meio: o objetivo é sempre o filho

Os erros de grandes homens… são mais fecundos que as verdades de pequenos.

A sensualidade ultrapassa muitas vezes o crescimento do amor, de forma que a raiz permanece fraca e arranca-se facilmente.

Crônicas e Afins: “Um corpo que cai”

“Um corpo que cai”

– Manuel Sanchez

Quando eu recebi a notícia de sua morte por uma mensagem seca através da internet, não foi exatamente uma surpresa. O estado mórbido em que ele se encontrava nos últimos anos, afastado de todos e deprimido, prenunciava uma fatalidade antecipada. Mas me banhei em uma tristeza imensa: porque agora estávamos definitivamente separados, sem chance de uma reconciliação. Não nos falávamos há muitos anos.

Antes de sair, peguei meu álbum e escolhi uma foto antiga. Meio amarelada. Sempre gostei daquela foto.

Andando pela ruazinha de paralelepípedos, eu via os túmulos cinzas e suas estátuas de cobre e pensava se pelo menos naquele segundo meu antigo amigo tinha encontrado um pouco de paz.

Se é verdade que a hora da morte é sempre solitária e um evento individual, também é certo que o suicídio é a conclusão de um relato social que envolve múltiplas relações, ligações e rupturas em encontros desafortunados.

Na capela austera, me sentei ao lado de um homem baixo, feições duras e olhar fixo em um caixão fechado apoiado em cavaletes. Pai e filho que não se viam há mais de década, resultado de uma sucessão de desencontros, acusações e falta de cuidado. Afetos partidos entre dois homens difíceis que se culpavam pela morte da única mulher que havia unido ambos. Uma história familiar de separação.

A ausência naquele momento de ex-esposa e filha era uma marca forte. Ela havia me avisado do ocorrido – por mensagem. Relações amorosas entre marido e esposa, pai e filha, íntimas e frágeis destruídas por brigas, traições e mágoas do qual participaram amigos e familiares. Se a ex havia decidido não reencontrá-lo,  a filha havia sido arrastada pela decisão da mãe. E teria em sua mente a certeza de uma versão.

Não havia colegas de trabalho. Nem outros amigos de infância. Exceto o pai, nenhum outro familiar.

Meu amigo havia se arremessado do sexto andar de um prédio. Estava sozinho em casa. Um ato final e solitário. Uma decisão individual como muitos insistem fantasiosamente.

Fantasia. Foi tecido e costurado por anos e décadas de convívio social, relações afetivas variadas, frustrações comunitárias, diálogos interrompidos.

Todo suicídio é social.

Não estamos sozinhos nem mesmo quando fecham as cortinas.

O caixão foi levado por mim, pelo pai de meu amigo e dois funcionários anônimos do cemitério. Ninguém falou nada. Mas achei que deveria cumprimentá-lo. Brinquei por tantos anos em sua casa quando era criança. Mas acho que ele não me reconheceu. E também não fez perguntas.

Depositamos o corpo de meu amigo de forma rápida. E o seu pai saiu sem se despedir. Os funcionários foram cuidar de seus afazeres.

Fiquei um pouco mais de tempo. Olhei as árvores que se levantavam para o céu azul nesses dias quentes de verão. Escutei os pássaros que insistiam em cantar competindo com o barulho dos ônibus que atravessavam a rua abaixo, levando pessoas cheias de planos, afetos, raivas, fracassos, sonhos e realizações. Feixe social.

Sobre a lápide coloquei uma foto antiga que tirei do meu álbum. Dois moleques. Olhávamos para a câmera e sorríamos abraçados cercados de brinquedos e revistas em quadrinhos. Sempre gostei daquela foto.

Sai do cemitério reencontrado com a vida e com meus desejos. Disposto a costurar, aproximar, acalentar e a cuidar. Somos um mar de afetos que explodem na praia. Deixemo-nos banhar.

Havia um céu azul em um dia quente de verão.